31 janeiro 2007

Nervosismo

Nunca senti tanto desprezo,
Por ti, Ó Antiguidade Clássica
Custas-me caro,
Não consigo estudar-te.

Estou tão cega,
Tão velada de ciúmes,
Por ti, Ó Antiguidade Clássica
Sabias ser branda e morna,
Branca na pedra dura.

Continuo a sentir que sou frágil
Não tenho nada nas minhas mãos
Nem minha própria personalidade
E sou tão leve que me deixo esvoaçar
Por entre os dedos de Ésquilo ou talvez de Platão.

Espero sempre tanto tempo por uma resposta
De alguém, de ninguém,
Até morrer, e renascer,
E ser mil e uma coisas à minha volta.

Contudo, és densa
Ó Antiguidade Clássica
Não te consigo vislumbrar
Tenho a certeza de que mais um dia passará
E a minha solidão fingida
Me consumirá,
Sem que eu te consuma primeiro.

30 janeiro 2007

Once forgotten we are truly perfect...

Última História de Embalar

Era uma vez muitos meninos
Que tinham muito medo
Da palavra Sempre
Não queriam ouvir histórias
Em que no final se dissesse
E viveram felizes para Sempre!
Esses meninos não receavam a Felicidade
Não! Eles eram ambiciosos
Queriam ter tudo aquilo que os realizasse
Porém, morriam de medo
Quando alguma menina bonita
Lhes dissesse: Para Sempre!
E de repente viam-se com aliança
Um rancho de filhos
E de responsabilidades
Acordavam e olhavam para o lado
E em vez de estar uma esbelta desconhecida
Estava aquela cara pálida, já distorcida
Das suas mulheres
Viam os anos passar
As rugas a surgir
O cabelo a esbranquiçar
A velhice aproximava-se
E os seus eternos dias
Eram passados a cuidar dos filhos, dos filhos dos seus filhos
Num piscar de olhos esses meninos disseram
NÃO!
E decidiram cortar com tamanha condenação
Despedaçaram, em mil e um pedaços
Cada história de encantar
Afugentaram, com muita fúria
Todas as meninas do lugar
Ficaram sós ambiciosos
Com todos os seus sonhos materiais por realizar
Mas que belo futuro se lhes avistava
Fama e sucesso
Tudo o que se podia imaginar
Sem filhos, sem esposas famintas por amar
E assim, na ânsia de apagar do mapa a palavra proibida,
Os muitos meninos viveram felizes para SEMPRE!

29 janeiro 2007

Modern Dance às 5 da tarde!




O meu amor bebe todo
O líquido
E não fecha a garrafa,
Perdendo-se assim o sabor
Orgânico, da minha fonte de água viva.

O meu amor chora quando me perde
Na noite
E não descansa até me encontrar
Recuperando-me, assim na mesma
Desiludida comigo, e egoísta.

O meu amor apaga todas
As luzes
E não deixa ver a continuidade,
Ficando assim agarrado ao presente,
Feliz e contente de me ter.

O meu amor é assim,
No meio do fumo do cigarro,
Alguém que me olha,
E contempla a minha não serenidade,
E quando o ouço falar de si,
Do esquecimento,
Sorri, sorrimos,
Um para o outro,
E damos o derradeiro beijo.

Não, nunca é o último...

27 janeiro 2007

He said...

Doll, I love you
But sometimes I need a day off

Don't get that face lift as a result

Don't you mind, you can take one, too
Don't you mind, don't you mind



FF

Colagem

Sentado contemplo-te
És quente, acolhedora
Tuas janelas reflectem florestas inquietas
Pelo vento que se ouve lá fora.

Tens teu traço,
Teu cheiro a tinta fresca, a cola
Tua luz
Do candeeiro redondo
Mas faltam-te palavras,
Faltam-te histórias.

Quem dera eu encontrar
Outro olhar, outro corpo
Para te habitar
E para afastar a solidão.

16 janeiro 2007

Há bombeiros nos mosteiros...

Tardes com o papá
Dá para perder a noção
Perdermo-nos no espaço
Aparecer, sem saber como, em claustros

Tardes com o papá
Dá para esperar pela sesta
Perdermo-nos nas nuvens
Aparecer, sem saber como, bem na frente do sol

Tardes com o papá
Dá para ter soluços
Perdermo-nos nos caminhos do jardim
Aparecer, sem saber como, em casas antigas

Tardes com o papá
Dá para comprar fotocópias
Perdermo-nos à espera de garrafas de água
Aparecer, sem saber como, dentro de carros rosados

Tardes com o papá
Dá para esquecer do namorado
Perdê-lo nas horas
Aparecer, sem saber como, no colo do Pim.

Tardes com o papá
Parecem séculos
Perdemos a juventude
E voltamos a ser cegos na Infância,

E só temos de carregar com os erros que os ossos encerram.

10 janeiro 2007

Só se atiram pedras a àrvores que têm frutos...

Fala Mezzo, fala para nós
Queremos sonhar contigo
Queremos ser contigo
Mais do que somos, assim, sós...

Fala Mezzo, fala as tuas fantasias
Queremos ouvi-las
E mais tarde senti-las
Nas posições fetais, onde o renascer se faz
Por entre tuas vogais abertas.

Tua voz é seda,
Veludo em nossos berços,
Como crianças, animais
Em voltas bem redondas
Exercemos teus rituais
E sentimos o céu.

Fala Mezzo, fala para estes teus rebendos
Que no frio chão ouvem teu canto
Impnotizados pela respiração
Que em conjunto professamos.

Não fales Mezzo, não fales
Mas canta, que nesse teu suprano
É onde a realidade se expanta
E vivemos ao largo da Felicidade e da Alegria.

A P. Dória