Foste o primeiro dos irmãos
De ti só recordo o colo,
A confusão.
Foste o primeiro de meu corpo
De ti recordo tudo,
Não tenho nada.
Triste funeral
Agarrado a gargalhadas tímidas,
Irmãos, filhos, netos agarrados à madeira de teu caixão.
Não tivemos coragem de entrar
De te segurar a face, sentir as mãos,
De te ver partir,
Porque já partiste há tanto tempo...
Eu sou sangue, do teu escasso sangue,
Eu sou o futuro atrasado
Que relembra o teu passado afastado.
No monte alentejano, branco
Cortaste-me as pernas para não mais andar,
Os braços para não mais te agarrar.
Obrigaste-me a ver-te embriegado,
Obrigaste-me a ouvir tudo,
Sobre a tua velha e apagada demência,
Sobre tuas novas e podres paixões.
Sempre te confundi,
Foge daqui, isto não vale a pena
Nem tua esposa te veio ver partir,
E o teu abandonar a tua morte
Assinalam o começo do fim,
O ano que precede ao Apocalipse.
Te amo, chorei por ti
No sol quente de Novembro,
Quando o vento frio fazia descer as folhas douradas,
Tenho saudades, já não te vi.
1927-2007
Sem comentários:
Enviar um comentário