12 novembro 2006

Filha Única

Por mais que tentemos ir em frente
Cada vez mais os nosso caminhos se afastam.
A nossa união genética não suporta a enorme força
Que a nossa formação social faz para anular
A nossa ligação uterina.

Já passou quase um ano desde que resseava
O teu desaparecimento da minha monótona vida,
Do meu inquieto pensamento.
Ainda te consigo desvendar,
Mas muito vagamente,
Não te entendo.

Começas a ser um enigma familiar para mim,
Começas a ser um estranho,
Um hóspede desconhecido em minha casa.
Já só conheço a tua dimensão degradante,
O cheiro a mofo que sai do teu quarto,
As palavras podres que saem da tua boca,
As tuas atitudes impias.

Já não existes como um refúgio,
Nem como um anti-herói,
Em quem eu confiava e admirava.
Agora és um anti-silêncio, apenas sabes gritar,
A tua felicidade pode ser feita apenas
Pela certeza de que ninguém virá para te arrancar a voz,
Para rasgar essa tua garganta funda, cheia de pequenos pecados.

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