Vinho e Fruta

Pensava que já não queria saber
Onde está a minha essência,
Mas afinal, quando subi ao sótão,
E me deixaram só,
Sentada naquela cadeira
Velha, cheia de pó, decrépita,
Senti o terramoto,
Senti a tempestade,
Senti a chuva.

Querendo abrir a janela
Para fugir,
Para subir ao céu cinzento,
Para me evadir.
O meu canto já não o consegue fazer,
Já não o consegue esquecer,
Já deu tudo.

Mas a janela estava fechada,
Tão só,
Tão fria.
Depois nem me apercebi de mim,
Nem da minha vida anterior
Que perdi.

Só hoje, depois de mais uma pequena desilusão,
Estúpida desilusão,
Percebo que não sou sentida da mesma maneira que me sinto,
Mas não há mal nisso,
Sentem-me de outra forma,
Tão especial e peculiar quanto a minha.

E vou e desço as escadas,
Saio para a rua,
Chuva.
E vou, passo praças, ruas
Gotas,
E subo outras escadas.

São as escadas que me ligam ao meu outro ser,
Desde o início.
Ser... Cheiro,
Agarro,
Deixo-me ser agarrada,
E queimo,
Arde,
Dói,
Alenta,
Grita,
Sorri,
Come...

Meus Velhos

Ocean Of Violence

Porém, naquela tarde carregada de nuvens,
Senti que não eras tu quem me preenchia,
Não sei porquê, mas quem me conduzia,
Pelas ruas, fazia-me querer o seu calor.
Talvez fosse uma fantasia...

As minhas razões são sempre mentiras
Para arranjar tempo
Para perceber o que se passa aqui,
Em minha casa...

E não arranjo maneira de saber o que fazer,
Sonho com quem não devo,
Deixo o corpo desejar o que não quer...

Tenho andado a aperfeiçoar-me,
A trabalhar para nós,
Mas se mais dias como aquele vierem,
Sugiro o fim, ou seja,
Declaro-me insuficiente,
E direi a todos, em tom de brincadeira,
Que foi uma maré negra para o Companheirismo...