26 novembro 2006

Os eternos minutos dos verdes anos...

Não sei, Espelho, porque escolhi esta cor,
Esta disposição da mobilia
Nem sequer gosto da minha maneira de fugir.

Detesto divisões,
Detesto esperas,
Eterna noiva no altar da organização.

Não sei limpar o pó da minha testa,
Vou ficando soterrada de ciúmes,
De mim, de ti, dele, de nós, e deles...

Bafejante vou cortando caminho,
Deambulante porque não sei estabilizar os meus pés,
O meu ritmo cardiaco.

A porta de meu quarto fecha-se lentamente,
Tantas vezes,
De tantas maneiras.

E os meus verdes anos vão sendo pintados
Com a falsidade da minha coreografia
Em frente a lobos esfomeados.

Não restam cristais,
Não restam vidros,
Continuo contigo, ó Espelho!

23 novembro 2006

Já apaguei a luz de cima...

Vou desaparecer por entre os teus dedos dos pés
Vou experimentar a tua falta,
Aí vais sentir a minha planta, a minha cara chapada,
de cigarros na boca,
Vou fugir durante 24 horas,
Um teste à tua incapacidade de me consolares
E de me manteres colada ao televisor,
Só para voltar a ver-te sorrir para mim,
Sem olheiras, sem cansaço.

20 novembro 2006

Palmeiras, mangas nos chutos das pedras...


Bolas de platina saíam da minha boca,
A viagem mirabolante entre a tua casa e o futuro fez-se num instante.

Música encheu as ruas de palmeiras,
De danças cintilantes,
Por entre os cheiros de alecrim.

Nunca tinha experimentado observar
2 a 2 as estrelas no céu, as luzes do Universo,
Nunca tinha provado
Desta alucinação de alegria e saudade,
De vida e melancolia crónica,
A assolar-me a embriaguez da minha imaginação,
De ouro pintada,
Ao agarrar a tua mão pelo sol do teu quarto queimada.

Sentir 2 a 2 os teus poros
E viver cada dia desta droga que é Te admirar.

16 novembro 2006

Génio Autoritário


Agora sou eu que estou no cubiculo
Entre quatro paredes trancada
Sem saber como era,
Esqueci-me.

Ando apavorada,
Triste,
Cansada de nos perder todos os dias,
De chorar a todas as horas,
Em todos os lugares.

E porquê?
Para quê?
Não me falta nada...

Estou esmagada
Por meu próprio sentimento
Egoísmo sem fim,
Que me vai fazer perder
O que carrego em meus lábios.

Vou perder o ano
A deambular,
A faltar,
Se não regressar à disciplina hospitalar.

Que se passa comigo?
Estou a andar...

12 novembro 2006

Filha Única

Por mais que tentemos ir em frente
Cada vez mais os nosso caminhos se afastam.
A nossa união genética não suporta a enorme força
Que a nossa formação social faz para anular
A nossa ligação uterina.

Já passou quase um ano desde que resseava
O teu desaparecimento da minha monótona vida,
Do meu inquieto pensamento.
Ainda te consigo desvendar,
Mas muito vagamente,
Não te entendo.

Começas a ser um enigma familiar para mim,
Começas a ser um estranho,
Um hóspede desconhecido em minha casa.
Já só conheço a tua dimensão degradante,
O cheiro a mofo que sai do teu quarto,
As palavras podres que saem da tua boca,
As tuas atitudes impias.

Já não existes como um refúgio,
Nem como um anti-herói,
Em quem eu confiava e admirava.
Agora és um anti-silêncio, apenas sabes gritar,
A tua felicidade pode ser feita apenas
Pela certeza de que ninguém virá para te arrancar a voz,
Para rasgar essa tua garganta funda, cheia de pequenos pecados.

07 novembro 2006

Tragédia


O tempo é a minha cela,
Nele eu verto as minhas angústias,
Não por não ser feliz,
Apenas por esta limitação do meu ser,
De não conseguir esquecer
As amarras que me prendem a estes ponteiros,
Fazendo me girar nos anos,
Mudar em meses,
Experimentar 1000 corpos numa semana,
Enjoar da vida,
De ficar sózinha pela noite fora,
De ficar apenas agarrada a esta cama
A cheirar a lavanda,
Onde todos os fins de tarde bate o sol
Que me aquece os pés,
Como nunca ninguém fez.

Meu louco,
Antigamente, quando exististe,
Cada simples gesto conseguia ser plenamente apreciado,
Cada coisa com a miníma insignificância
Servia para alimentar o dia.
Mas de noite,
Como ainda nos acontece,
De noite, meu morto vivo,
Meu vivo sempre morto,
De noite havia vontade de voar,
Saltar as paredes deste hospício
E de vaguear pela cidade,
Como uma traça,
Até ser atraída pelas luzes do teu quarto,
E entrar pela janela,
Ficando ali,
A sentir o fumo de mais um cigarro.

Agora sinto-me como sempre,
Viciada no ópio da tua crueldade,
Estéril de alegrias,
Fértil em lágrimas
Ritmadas pelos ponteiros do relógio,
Pelos raios de sol
Que me esfriam as mãos
E aquecem a solidão.

04 novembro 2006

Licor no Sofá

Está frio
Estou aqui sentada
No sofá
Um ano depois
De subirmos
Às árvores
De renunciarmos
A nossa natureza
De seres
Apaixonados
Vindos
De um período
Anterior.

Ainda
Quero sentir
A confusão
Desses "ais"
Que soltávamos
Quando
Ainda
Só conheciamos
O interior oculto.

Estou aqui,
Em paz
Estou aqui,
Feliz,
Era feliz
Naquela altura
Sem ti,
E agora continuo
A sê-lo,
Mas sofro
Se voltar
A sentar-me
A teu lado
Sem te conhecer
Sem conseguir
Proferir
Uma palavra.

A minha
Semi-nudez
Naquela foto,
Quando me apercebi
Da tua existência
Em mim,
Foi inveja
Por puderes
Estar enganado,
Por me puderes negar
Durante 3 dias
E por depois
Me suspirares
Durante 1 ano,
Porque eu
Desde que nasci
Suspirei por ti.

Este sofá,
Este filme,
Este cenário
De saudade
Faz-me querer
Dormir a teu lado,
Sim desta vez
Acordar com
Os pés gelados
E o vento
A ressoar
Naquela gruta
De amor fingido,
Mas
Agora
Contigo a meu lado
Para me aquecer
A doçura
De mais um dia,
De mais um ano,
A prender
As tuas pernas
Entre as minhas,
A suster
A tua respiração,
A guardar
A tua existência
Em meu coração.

02 novembro 2006

Leão Dourado

A chuva chega
Avisando o retorno de tempos passados.
Ficamos à espera que nos levem
Para fora da nossa felicidade,
Já chega de propostas,
De tempo só para nós.
Já chega de recordações,
De rebuscar caras afastadas
Num jogo onde só existe uma face,
A coroa, o galardão que não é meu.

A chuva cai,
Continua a inundar as estradas,
O nosso caminho permanece encharcado
De pesadelos,
Que passam contagiando-nos com a sua imundice,
Tornando-se na lama que me serve de lágrimas,
Nos momentos mais intimos de nossos abraços.

Não existem tectos que nos abriguem.
A dureza de minhas palavras cai constantemente
Em nossas cabeças,
E o meu coração quebra-se como o vidro,
Pela tristeza que tenho em ser de tal natureza,
Tão de fel.
Amargura que não se vê,
Mas que se sente,
Depois do prazer mais ardente
Apagado pela chuva.