04 dezembro 2007

Faltas


As coisas mudam,
Estão a mudar,
Talvez a perfeição seja assim.

Sente-se no ar
A terrível esperança
De que exista um Apocalipse.

Sente-se nos seres humanos
Uma terrível tensão,
Um desejo infindável de suor e lágrimas.
De guerra.

Os animais estão inquietos,
Juntam-se em bandos e
Devoram tudo o que se lhes aprouver.

Hoje o dia acordou com nevoeiro,
Pouco ou quase nada se conseguía ver
Da janela do meu quarto.

Está frio e tudo é sinistro.
Até quando decido sair à rua,
Sinto, depois, quando piso o alcatrão,
Que mais valia ter ficado
No quente da cama.

Mas quero ver tudo a mudar.
São árvores que caem,
Lojas que fecham,
Paragens de autocarro que mudam
Para o outro lado da estrada.

Pessoas morrem,
Outras desaparecem,
Edifícios são demolidos,
Famílias destruídas.

São noites calmas
Que passaram a ser vazias,
São noites agitadas
Que se tornaram insónias.

Amizades transformaram-se em pesadelos,
Amores viraram mentiras,
Certezas que já não duram,
Fábricas que faliram.

São ditaduras mortas que ressuscitam,
Abutres sedentos que caem em hotéis de luxo,
Sou eu, tu, os outros.

É a desconfiança, a solidão,
A falta de afecto ou o esquecimento dele.
É o homem no centro,
A ser examinado a cada passo que dá.

São cheias e secas,
Atentados,
A supremacia da estupidez.
Estamos todos incluídos nisso,
Todos pactuamos com isso.

Somos todos ignorantes,
Egoístas,
E por isso gostamos de festas e de funerais,
Para mostrarmos aos outros
Que a nossa felicidade é maior,
Que a nossa tristeza é incomparável.

É mais um atropelamento
É mais uma overdose,
É só mais uma gota de suor,
É só mais uma lágrima,
É só mais um bocadinho do meu corpo,
É só mais um bocadinho da tua hipocrisia,
É só mais um passo para o fim.

Parabéns!

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